Argentino tem boas chances de contar com o apoio de republicano na Casa Branca

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, acena perto de parlamentares em sessão do Congresso do país em Buenos Aires - Juan Mabromata - 29.nov.23/AFP



A posse de Javier Milei, programada para este domingo (10), marca o início de mais um governo ultra qualquer coisa que chega ao poder com apelo antissistema, sem enraizamento na política institucional e partidária.

Como não é possível governar no vácuo, a tendência, que já se desenha, é o novo presidente argentino recuar, em parte, de radicalismos de campanha. Permanece no ar, ainda assim, um risco considerável de instabilidade, como se viu em outras aventuras semelhantes, como a de Jair Bolsonaro no Brasil, e a de Donald Trump nos Estados Unidos.

Não é improvável, aliás, que o anarco-capitalista portenho venha a ganhar no ano que vem o respaldo de um novo ciclo presidencial do magnata populista americano, que deverá ser o escolhido pelo Partido Republicano para enfrentar o declinante Joe Biden –caso se confirme a opção dos democratas pela reeleição do atual mandatário.

Biden enfrenta no momento enormes dificuldades para projetar-se como um candidato competitivo, embora tenha a vantagem de estar na Casa Branca. Trump, contudo, também estava lá quando perdeu –e promoveu, a seguir, a patética invasão do Capitólio.

O democrata chegou ao poder mais elogiado por representar uma volta à normalidade institucional do que por despertar expectativas promissoras. Não tem conseguido criar a impressão de que terá energia e capacidade para fazer um grande segundo mandato.

Às voltas com um país e um mundo em mudança, Biden investiu na velha lógica da política externa americana de respaldar ativamente confrontos com a Rússia e apoiar incondicionalmente Israel. Tem destinado uma montanha de dinheiro para municiar a Ucrânia, país invadido unilateralmente por Putin, e apoiar militarmente Israel, depois do ataque terrorista do Hamas. Ao mesmo tempo, preocupa-se com a expansão geopolítica e diplomática da China, sob as nuvens cinzentas que rondam as relações da potência asiática com Taiwan.

A população americana, enquanto isso, tem dado sinais de desinteresse e impaciência com a gastança de dinheiro e o envolvimento dos EUA em conflitos longínquos, enquanto problemas internos se avolumam. O lema de Trump "America First" surfa também nesse sentimento já conhecido de que o mundo até importa, mas já não importa tanto.

Fonte:

Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima e autor de '1922 - A Semana que Não Terminou' (Companhia das Letras, 2012)FSP