Nesta esteira, o adultério da Fabíola é fato grave e causou vexame ao marido traído, mas nada justifica as pancadas ofertadas pelo homem e o ‘apedrejamento social’ sem direito a defesa.

Os noticiários veicularam de forma exaustiva um caso inusitado, tendo como protagonista uma bancária (fizeram questão de anunciar a profissão da mulher) de nome Fabíola, seu esposo, o melhor amigo da família e um cinegrafista amador.
As notícias evidenciaram o flagrante de um marido traído, encontrando a mulher saindo de um motel na companhia do melhor amigo do casal. Indignado, o marido traído manda outro amigo filmar a cena, quebra o carro do amante de sua mulher, arranca-a do carro puxando-a de forma brusca pelos cabelos, e, não bastando, divulga o vídeo nas redes sociais.
O vídeo foi visto e compartilhado por milhares de brasileiros, tornando-se em poucas horas no mais novo ‘meme’, e o caso, por mais interessante que possa se apresentar, não foi parar na Delegacia, mas nos ‘tribunais particulares’ de cada brasileiro indignado com a conduta da Fabíola.
Sou mulher, sou casada, tenho uma, ou melhor, várias profissões, e fui assaltada por um intrigante e oportuno pensamento: E se EU fosse a Fabíola? Como estaria me sentindo neste momento?
Calma lá!
Compreendam, por delicadeza, que neste texto não tenho o intuito de afirmar que também tenho amantes, mas como genuína ‘amante’ do homem e dos direitos humanos, divaguei em pensamentos e ponderei: Como conseguiram apedrejar uma mulher em pleno Século XXI? O apedrejamento não era ‘oportuno e razoável’ na era bíblica? Por que tal conduta ainda está tão arraigada ao homem moderno?
Em tempos de respeito à dignidade da pessoa humana, preocupação em reprimir qualquer forma de discriminação e crimes de quaisquer esferas, como parte da sociedade permanece agressiva e equivocada no que compete ao respeito com o seu semelhante?
Não estou aqui advogando em favor da Fabíola, muito menos do marido traído, nem do amante ou do cinegrafista. No entanto, o que me causou enorme estranheza foi o fato da população sair em defesa do marido traído agressor. Sim, muitas pessoas aplaudiram os atos agressivos do, também agressor.
Tanto aclamaram, que fizeram questão de divulgar, propagar seus pensamentos.
Curiosa e estudiosa acerca das condutas humanas, tive a preocupação de dedicar vários minutos do meu precioso e corrido tempo lendo cada comentário, e realmente fiquei estarrecida com o que li, notadamente os comentários de pessoas jovens (homens e mulheres) que ofuscaram com a já maculada reputação do ser humano Fabíola.
A surpresa impera quando insistem em afirmar a profissão da ‘Maria Madalena do Século XXI’, como se nesta ou naquela profissão não fosse permitido cometer os maiores deslizes que o livre homem acha interessante.
Fabíola é bancária, mas também poderia ser advogada, dona de casa, professora, engenheira, arquiteta, design de moda, tendo em vista que traição não se concretiza apenas numa ou noutra profissão.
Sempre costumo afirmar que o homem é livre e faz da sua vida o que quiser, contanto que arque com as consequências de seus atos e se determinado ato trouxe prejuízo a outrem, trate de ressarcir o ofendido.
A Maria Madalena brasileira, flagrada adulterando, deveria responder ao seu marido pelo ilícito praticado, mas isto em uma conversa franca entre os dois e sem plateia.
O que vimos, infelizmente, foi grande parte da nação açoitando a pobre mulher, como se vários homens também não praticassem seus ‘pulinhos’ eventualmente e muitas vezes com a melhor amiga da sua mulher.
A história se repete. Não sejamos ingênuos!
Que cada um de nós faça com nosso corpo o que mais achar interessante, mas não sejamos hipócritas ao ponto de atirarmos pedras ante a fragilidade de um ser humano que, como nós, é passível de erros, tropeços e falhas.
O adultério é terrível!
Ser traído é algo que tende a proporcionar sentimentos abomináveis, repudiantes, constrangedores e deprimentes.
O ato da moça é, sem dúvida, reprovável, até porque, se são casados, há um contrato formal regendo aquela relação, há o dever de lealdade, respeito mútuo e dedicação, não justificando a atitude ‘pecadora’ da Fabíola.
Nesta esteira, o adultério da Fabíola é fato grave e causou vexame ao marido traído, mas nada justifica as pancadas ofertadas pelo homem e o ‘apedrejamento social’ sem direito a defesa.
Reflexiva, ponho-me a pensar: Se eu fosse Fabíola, diria:
“Quem não tem pecado, atire a primeira pedra”!