Um exercício de imaginação de como seria um dia no Brasil em 2024


Adalgisa acordou cedo, exausta. Desde outubro de 2023, o governo havia proibido a Novalgina alegando que o remédio desencadeava uma mutação no DNA que habilitava uma conexão Bluetooth do pâncreas, pareando-o com celulares chineses.

As dores de cabeça de Adalgisa estavam cada vez mais frequentes. E a cloroquina não estava surtindo efeito. Seu filho Tobias estava com sarampo. E a cloroquina tampouco surtia efeito no tratamento. Deprimida, Adalgisa passou a tomar cloroquina para estabilizar seu humor. Em vão.

Ainda reverberava na memória de Adalgisa o patriótico pronunciamento em que o sultão Jair Bolsonaro revolucionou o Sistema Único de Saúde no Brasil. "Acabou a palhaçada. Parem de depender do Estado para tratar a saúde, porra. ‘Ain, tô doentinho e vou procurar um médico.’ Mimimi! E a economia, porra? Para que SUS quando se tem WhatsApp? Eu não sou enfermeiro!"

O pronunciamento provocou efeito imediato. Uma multidão acampou na porta dos hospitais públicos bradando contra a "cubanização da saúde". O príncipe Charles Bolsonaro cunhou o lema da rebelião: "Isentões diplomados, o teatro dos bisturis. Diagnóstico: não é virose. É comunismo. Che Guevara foi médico!".

A saúde pública foi proibida.